quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

ÀS TRAÇAS


Vista de longe a camiseta pode ter a aparência impecável, mas de perto é possível observar os sinais das traças. Observa-se que elas roeram o máximo que poderiam roer, e se nada fosse feito à camisa ela seria roída por completa, pois traças não se saciam com poucos buracos, pelo contrário, desfilam entre a roupa como locomotivas. Roupa furada ou que aparenta sinais de pobreza dá-se aos pobres, prefere-se ficar com a camiseta impecável, sem buraco, com cheirinho de nova e uma prepotente modernidade. A vida em volta das traças faz lembrar-me da contradição existente em nosso meio: Como pode os filhos de diretores, professores, secretários municipais de educação, Ministros da educação e suas equipes estudarem em escolas privadas? Não são eles os responsáveis pela existência das melhores escolas da cidade e do estado?! Então o que acontece para que os seus filhos não sejam também alunos do município ou do governo? Que fingidas qualidades municipal e governamental são essas que fazem as crianças das fotos de propagandas políticas serem bem diferentes das reais?
Creio, infelizmente, que as crianças reais mandariam o fotógrafo tomar em algum lugar, mostrariam o dedo obsceno, xigavam-se e machucavam-se. Por que não se mostra a realidade nua e crua? Por que não assumem que a qualidade está longe mas há um interesse de conquistá-la?! Por que ser como cegos em tiroteio e enfiar goela a baixo da população uma realidade que não existe? Talvez, infelizmente as traças já ultrapassaram a roupa e chegaram à dignidade, pois é isso que roem a nova espécie de traças. Elas têm uma incessante e gananciosa fome que devoram tudo que vêem pela frente, seja o que for: dignidade, moral, respeito, caráter, honestidade, e todo o resto que sobra, a elite dá aos pobres. Tem nem sequer a moral de costurar os buracos, simplesmente jogam aos pobres que se rebatem feitos loucos à procura de algo melhor do que a nudez. E assim vira um ciclo: a Educação Básica num dos piores sistemas educacionais do mundo é destinada aos pobres, e a Educação Superior, a porta mais difícil de entrar é aberta aos ricos, os mesmos responsáveis pela educação que deveria ser de qualidade e da qual seus filhos não fazem parte. Moral da história: as traças roem professores, alunos e um sistema feito de pessoas que não têm nem interesse e nem capacidade para ocuparem o cargo que ocupam, estão simplesmente lá porque caíram de paraquedas numa cadeira que lembra o conforto do lar.


ELIMAR

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